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Compost Barn: o que ninguém te conta antes de construir

Nada pior do que se sentir ludibriado. Quando você está "com barro até o pescoço" todos te encorajam a construir, mas depois que o barracão de compost barn está pronto só falta te falarem: “Quem pariu Mateus que o embale”. Você sabe que vai dar certo, mas sabe que informação vale ouro, agora sabe disso na pele.

Aqui vou tocar em alguns pontos que em geral os produtores não se atentam e muitas vezes é fonte de frustração numa construção recém acabada. Calma! Pra tudo tem jeito... ou quase tudo.

A primeira coisa que todo pai de primeira viagem passa é: reposição e conserto da bendita cama. Você precisa entender que a cama é viva. Ela é uma mistura de carbono (vindo da maravalha ou outro material), nitrogênio (vindo da urina), água (da urina também e esterco), bactérias (vindas do esterco) e oxigênio (vindo da aeração ou revolvimento da cama diário).

Quando todos esses elementos estão em equilíbrio você tem uma cama de cor uniforme, sem torrões, com temperatura adequada, sem moscas, etc.


Principais problemas com a cama de Compost Barn:

  • Formação de torrões
  • Cama compactada
  • Cama Listrada
  • Cama com terra misturada
  • Temperatura da cama
  • Reposição da cama
  • Hora de remover a cama


Seguem dicas para cada uma das situações:

Formando torrões?

É sinal de umidade alta. Hora de pensar em três ações imediatas: ligar os ventiladores mais tempo (caso não estejam ligados 24h), repor material de cama e talvez passar uma enxada rotativa para desfazer os torrões já formados. Ficar só na enxada rotativa pode te ajudar por um tempo, mas se a umidade está alta devemos agir na formação dos torrões e não apenas desfazer os que se formam.


Cama compactada?

Umidade alta. Reposição e ventilação são cruciais e aeração mais vezes ao dia. Dica importante: gastar mais tempo batendo a cama não faz tanta diferença como fazer um ou dois revolvimentos extras até consertar, pois na primeira batida da cama é que ela perde mais umidade, a partir da segunda essa perda já vai ficando menor. Então bata a cama, mas tente fazer isso em mais momentos do dia, só até descompactar e ver que a umidade está controlada. Depois vida normal.


Cama listrada?

O revolvimento da cama está sendo feito sempre no mesmo sentido e não está misturando áreas mais úmidas com áreas mais secas. Comece pelo menos algumas vezes na semana a fazer movimentos de zigue-zague no barracão. Assim, áreas com maior trafego de animais vão se misturar a áreas de menor trafego e você garante que a cama estará com umidade mais uniforme. Pilares no meio do barracão podem dificultar essa passagem do trator.


Misturou terra?

Sinto lhe dizer você está matando a compostagem. A cama consegue ser consertada em inúmeras situações, mas mistura de terra é uma das coisas que vai condenar sua cama. Atenção à altura do subsolador, não deixe de maneira alguma ele pegar terra abaixo da cama. Se já aconteceu, é hora de considerar a substituição total da cama, pois ela provavelmente não vai mais aquecer e não vai mais perder umidade, formando barro e expondo os animais a um risco sanitário importante.


Temperatura da cama

Segunda lição para os "papais" e "mamães" de barracões: temperatura da cama! Como comentei a cama é viva, é uma reação constante de digestão por parte das bactérias e produção de composto. Portanto é desejável que a cama esteja quente 20 cm abaixo da superfície.

IMPORTANTE: Essa temperatura é variável! Quando a cama é nova a tendência é que as bactérias inoculadas pelo esterco nas primeiras semanas "façam a festa", pois há carbono abundante, então a curva de fermentação vai estar muito íngreme. É comum vermos camas com 65°C nesse momento, mas depois a temperatura vai lentamente caindo e se estabiliza em torno de 45°C. Não se preocupe.


Reposição da cama

Terceira lição: reposição de cama. Quando repor? Como repor? Eu diria que a primeira coisa é inaugurar o composto usando maravalha, por ser um material com densidade interessante e que vai demorar a ser consumido. Outro ponto é começar o barracão com uma lotação mais baixa para que se aprenda a manejar a cama, especialmente se estiver num período mais chuvoso. 12 a 14m²/vaca é uma boa medida inicial, depois podemos chegar a 10m² com segurança.

Ainda sobre reposição da cama lembre-se de duas coisas:
Primeira: lotes mais produtivos comem mais e portanto, estercam mais. Segunda coisa: meses úmidos exigem mais reposição. Assim, é crucial que a fazenda tenha um pouco de material para reposição emergencial, como em áreas de passagem de vacas, áreas mais sujeitas a chuva de vento, etc. Por isso sempre tenha muita atenção aos lotes mais cheios ou de maior produção, provavelmente é ali que a cama vai estar "mais feia" e há maior possibilidade das vacas estarem sujas.


Hora de remover a cama

Última dica de hoje: hora de tirar a cama. A cara da cama ou a temperatura da cama não mostram que é mais ou menos rica em nutrientes, apenas que está sendo bem manejada. Você vai poder ficar com a mesma cama por 1 ou 2 anos tranquilamente se o manejo for correto.

Porém, se está curioso para saber o teor de nutrientes, recolha uma amostra e envie ao laboratório como análise de solo. Se você chegar lá e pedir análise de composto provavelmente eles vão dizer que não fazem. Mas mande como solo que vai dar certo e aí você pode julgar se é momento de usar, se compensa em relação a adubo convencional, etc.

A seguir, falarei um pouco sobre estresse térmico dentro do barracão e ventiladores. Pra você que achava que isso não acontecia fique ligado! É um problema muito real. A boa notícia é que pra tudo tem jeito! Vou te contar como e o que fazer com as vacas:

Quem construiu o barracão para nunca mais ver uma vaca "batendo"? Quem construiu um Compost Barn pensando que seria inverno o ano todo? E quem construiu achando que as vacas iam voar e você ia precisar comprar outro tanque, fazer leilão todo ano, etc? Pois bem... pegue a senha e vá pro fim da fila senhor(a).

Infelizmente estamos sempre em busca de algo. Aquele algo que vai resolver todos os nossos problemas, aquilo que vai superar todas as nossas expectativas e vai enfim nos fazer chegar a terra prometida: Canaã. Com o Compost Barn não seria diferente. Vou sempre a fazendas que, apesar de terem construído, não se atentaram a algumas questões da construção e manejo cruciais para que o resultado do barracão seja realmente bom.

Quais os principais pontos que você não pode errar? Você vai ver que fazer um projeto com um consultor específico será um dos melhores investimentos.


Principais problemas ao construir um Compost Barn:

  • Orientação do barracão
  • Barracão sem beiral
  • Bebedouro ineficiente
  • Falta ou uso incorreto da sala de resfriamento
  • Ventiladores inadequados
  • Ventiladores desligados (inversores?)
  • Aspersão na linha de cocho
  • Não preparar as pessoas para manejarem o sistema



Orientação do barracão

A orientação do barracão deve ser Leste-Oeste, para que o sol passe por cima e você tenha a maior área de sombra possível pelo maior tempo possível abaixo da cobertura. Se fizer Norte-Sul você vai perder eficiência pois haverá sol dentro do barracão mais tempo. É possível trabalhar? Sim, mas se prepare para deixar uma metragem maior de cama por vaca pois elas vão evitar áreas de sol.


Barracão sem beiral

Economia que não vale a pena definitivamente. O beiral vai proteger a cama da chuva que, caso molhe, irá expor suas vacas a risco de mastite sem necessidade alguma. Lembre-se que, mesmo que sua fazenda seja numa região como o Centro-Oeste, que não chove em boa parte do ano, o resto dos meses chove e seu risco será sempre iminente.

Faça a conta de quanto pode te custar um surto de mastite e, seja honesto nessa conta, medicamento, descarte do leite, queda significativa na produção (que adeus, nunca mais volta), CCS e até perda de animais. “Ah! E se eu não fizer o beiral na pista de trato”. Vai molhar a comida. Pois bem, esse é o maior custo da fazenda e eu não gostaria de perder nada da comida feita com tanto trabalho.


Bebedouro ineficiente

Leite é liquido, pelo menos até agora ainda é. Então temos que hidratar nossas vacas. Elas perdem uma quantidade enorme de líquido a cada ordenha e precisam repor isso. Seu barracão pode ser lindo, mas deixar poucos bebedouros ou deixá-los sujos interfere diretamente na ingestão de água dos animais.

Se elas bebem menos água elas põem menos leite no tanque, é a lei da causa e efeito. Sabe por quê? Porque a natureza é sábia! A vaca sempre vai (fisiologicamente) pensar nela primeiro antes de produzir leite para o bezerro.

Um ponto importante é que haja um bebedouro na saída da ordenha para aproveitarmos o estimulo fisiológico de sede que vem no momento da retirada do leite. Deixe um cocho com largura de 0,80m por animal e multiplique pelo número de conjuntos, ou seja se saem 6 vacas por vez deixe espaço para as 6 beberem água sem disputa ao mesmo tempo.

Sempre dê o maior número de chances para que as vacas bebam água. Saiba que água entra em praticamente TODAS as funções fisiológicas (imunidade, termorregulação, digestão, etc.) ou seja “Vaca que bebe menos água passa mais calor”. Estamos entendidos?


Falta ou uso incorreto da sala de resfriamento

Esse é um atalho muito popular, mas péssimo! A turma constrói um barracão de revista mas esquece da sala de resfriamento. É o seguinte: Pense no aquecimento dos animais como um carro acelerando na pista. A sala de resfriamento vai frear bruscamente esse carro e apenas ela tem esse poder!

Se as vacas não forem para a sala de resfriamento e ficarem os 40 min resfriando, elas entram em estresse térmico (temperatura acima de 39.1°C) e demoram muito a sair de lá. O banho é a maneira mais efetiva de tirá-las do estresse.

O que vai mantê-las abaixo dessa linha de estresse? As condições climáticas a que elas se expõem logo após o banho, ou seja a temperatura ambiente (em dias mais quentes o efeito do resfriamento vai durar menos), se os ventiladores estão ligados, umidade mais baixa, etc.

Você pode usar aditivos alimentares com comprovação cientifica que ajudam bastante a ficarem menos tempo em estresse térmico também. Agora calma, não quer dizer que você precisa ficar com um termômetro 24 horas monitorando os animais. Já sabemos que as vacas esquentam em determinados horários, com algumas variações.

Que horários são esses? Elas começam a acelerar pela manhã, após a primeira ordenha e entram em estresse térmico por volta do meio dia e vão assim até o final da tarde, quando, teoricamente, elas deveriam tomar um segundo banho.

Após essa ordenha do final do dia elas começam a esquentar de novo e tendem a passar a noite em estresse. Lembre-se que a cama do composto não é tão fria quanto a areia do Freestall e que ela fermenta, além de que, durante a noite, a construção está irradiando calor.  Mas calma! Não precisa se desesperar.

Considere, então, que os ventiladores devem ficar ligados durante a noite e também e, se possível, dar um banho extra por volta das 22:00h. Obviamente banhos extras devem caber no seu manejo, mas sabendo da importância com certeza fica mais fácil de encaixar. Note no gráfico o efeito do resfriamento no momento da ordenha.


Ventiladores inadequados

Ventilador de frango nem pensar, ok? Sou categórica em relação a isso e a economia não vale a pena. Um ponto importantíssimo antes de comprar um ventilador é ir conhecer um projeto em que já estejam instalados e verificar o funcionamento deles.

Por quê? Porque a velocidade de vento que precisamos é de 2 m/s na cama e 3 m/s na sala de resfriamento. Nesse quesito muito se promete, mas pouco se entrega. Cuidado com marcas que prometem entregar essa velocidade de vento a uma distância muito grande uns dos outros (20m por exemplo), pois pode ser uma tática comercial para baratear o projeto total.

Minha dica: procure equipamento específico para vacas e vá visitar fazendas para vê-los em funcionamento! Temos excelentes equipamentos tanto nacionais quanto importados.


Ventiladores desligados (inversores?)

Comprar ventilador e não ligar é uma triste realidade em muitas fazendas. Sabemos do custo e da crise no fornecimento de energia, especialmente em alguns estados. Vamos às recomendações e depois às alternativas.

O certo é ventilação ligada 24 horas. Pensando na cama, nas vacas e na qualidade do ar. Ponto. Negociação possível: Fazer grupos de ventiladores ou instalar inversores nos ventiladores. Os grupos podem ser "uma linha sim e uma não" que se alternam em alguns períodos do dia, onde a energia é mais cara por exemplo.

Os inversores têm se mostrado como uma excelente alternativa para manter a ventilação e usar menos energia, isso tudo pode ser programado no painel para que seja totalmente automático com custos bem razoáveis. Os inversores podem vir integrados aos ventiladores ou serem comprados a parte.


Aspersão na linha de cocho

Como falei acima, pense no aquecimento das vacas como um carro acelerando na pista. A sala de resfriamento funciona como um freio brusco, já o resfriamento da linha de cocho é um freio mais brando. É efetivo, dá resultado, mas não tão palpável como a sala de resfriamento e, lembre-se, vai precisar de um bom manejo de dejetos.


Não preparar as pessoas para manejarem o sistema

Erro básico da atividade leiteira como um todo. Cuidamos e discutimos minúcias de dietas, detalhes de construção, fisiologia, etc. Mas esquecemos de quem opera toda nossa engrenagem. Esquecemos que quando a fazenda opta por construir vai mudar uma série de manejos e para que tudo isso funcione você vai precisar treinar, conversar, treinar de novo, acompanhar, conversar de novo...

Enfim, o trabalho com pessoas é repetitivo e exige paciência, mas é o que vai fazer sua fazenda voar, é o que vai fazer com que a engrenagem rode.

Concluo aqui, esperando de coração que essas dicas sejam valiosas e que possam minimizar os erros de quem está com a melhor das intenções mas precisa de orientação para realmente chegar lá. Comentem e repliquem!



Fonte: Site www.milkpoint.com.br

Data: 15/07/2021

 

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